Há pelo menos cinco anos, a cidade de Guarapari vive uma situação caótica na saúde. Um dos pontos negativos é a questão da maternidade. Como se sabe, apesar de ter o apelido de “Cidade Saúde”,  a cidade não tem uma maternidade pública. E com isso, recorre a hospitais particulares que tem convênios com o SUS. Um desses hospitais, o São Judas Tadeu, foi denunciado no mês de fevereiro por uma suposta negligencia médica. Neste hospital, ocorreram sete mortes de bebes em apenas 43 dias.

Situação que veio a tona, depois que os pais do último bebê –  chamado de Davi – veio a  falecer no hospital. “É triste, ele está há nove meses na minha barriga e não poder vê-lo”, desabafou a imprensa a mãe de Davi, Gedislaia dos Santos. O pai,  Walace Borges, também se disse chocado com a situação.  “Já morreram oito recém-nascidos no mesmo hospital e no mesmo médico. Isso tudo errado. Eu não sei o que está acontecendo neste hospital”, disse a imprensa.

Hospital São Judas Tadeu. Foto: TV Gazeta.
Hospital São Judas Tadeu. Foto: TV Gazeta.

Reposta. O diretor do hospital, Carlos Frederico Machado, afirmou que alguns dos bebes já estariam mortos ao nascer. “A maioria das gestantes chegou já com o feto morto. Acredito que três mortes ocorreram de fato no hospital, mas o número não está fora das estatísticas”.

Ele admitiu ainda que técnicos de enfermagem realizam partos na unidade “Não é rotina, mas acontece em casos de urgência, quando o médico de plantão está em cirurgia”, afirmou a imprensa.

Interdição. O hospital foi interditado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Existe a possibilidade do fechamento definitivo da unidade. Uma investigação foi aberta pelo Ministério Público Estadual (MPES) e pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). O alvará sanitário provisório estava vencido desde junho de 2012. De acordo com a imprensa, o descredenciamento foi pedido pelo Ministério da Saúde.

O ministro da Saúde, Alexandre Padrilha, que esteve no estado para inaugurar um hospital, afirmou que uma auditoria realizada em outubro do ano passado, apontou diversas irregularidades no São Judas. Entre essas irregularidades estavam, falsificação de prontuários, fraudes ao SUS, erros na cobrança de procedimentos e até mesmo a falta de alvará sanitário. “Desde outubro, o Ministério da Saúde fez uma auditoria detalhada sobre as mortes e outras irregularidades. Identificamos uma série de irregularidades em relação ao preenchimento de prontuários e ao registro de procedimentos. Não vamos permitir de forma alguma esses problemas, o desperdício dos recursos da saúde. Temos o paciente como um aliado na fiscalização”, disse o ministro.

Problema antigo. A situação desse hospital e consequentemente da saúde de Guarapari, já é caótica há pelo menos 5 anos. Desde 2007 existem denuncias sobre mal atendimento, irregularidades e mortes de bebes. Tendi inclusive sido denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) que pediu ao Ministério Público Federal (MPF) o descredenciamento do hospital junto ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Em 2009, o problema já tinha sido denunciado pelo Jornal A Gazeta, em virtude da morte da bebê Josiele Cândido Martins, em abril, também por suposta falta de assistência médica necessária de um plantonista.  A criança apresentou problemas respiratórios, após o nascimento e necessitava de cuidados intensivos. Além desse caso, ainda de acordo com o jornal, a professora Lígia Albino, em fevereiro, deste mesmo ano, foi operada no lado errado da cabeça para a retirada de um coágulo. O problema se agravou e ela necessitou de uma segunda cirurgia em outro hospital. Na época o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), chegou a abrir sindicância. Mesmo depois disso, o hospital continuou funcionando normalmente, até fevereiro deste ano, quando ocorreu a morte de Davi e os pais fizeram uma manifestação em frente ao hospital denunciando e alertando para todos a terrível situação dos recém nascidos de Guarapari.

E agora?

A gestão interina da prefeitura, através da secretária municipal de saúde, Hozana Simões, já disse à imprensa que as gestantes de Guarapari irão dar a luz nas cidades vizinhas. “Todas as gestantes devem ser encaminhadas para a UPA e lá ser transportadas em nossas ambulâncias, com apoio do SAMU para as unidades de referencia que são as cidades de Anchieta, Itapemirim, Cariacica e Vila Velha”, disse.

Atual secretária de Saúde, Hozana Simões. Foto: TV Guarapari.
Atual secretária de Saúde, Hozana Simões. Foto: TV Guarapari.

A nova administração da cidade assume no dia 06 de março. Uma equipe de transição já está formada. Ainda não se sabe como o novo prefeito Orly Gomes (DEM), vai resolver o problema. Para as gestantes e para a população, o caso agora é de esperar as investigações da justiça e a ações da nova administração.