Candidatos Mulas
Candidatos Mulas

Eu me lembro até hoje de uma situação inusitada na adolescência que, de certa forma, produziu em mim uma profunda reflexão sobre as aparências e as consequências de nossas decisões. No final da década de 80, fui conhecer uma fazenda que meu pai havia comprado no Maranhão. Chegando lá, fiquei maravilhado com tudo, principalmente com os animais. Cada um mais bonito que o outro. Tinha de tudo: pavões, ovelhas, galinhas, cavalos, vacas, coelhos – o lugar parecia ter sido o local de desembarque da arca de Noé.

Pois bem, certo dia meu pai pediu que eu e o meu irmão escolhêssemos qual animal queríamos montar para irmos a uma vila próxima, distante 10 km do nosso Jardim do Éden, cujo nome terreno evocava o umbral ambicioso do patriarca – “Fazenda Ouro Flores”. Eu, todo atirado e metido a besta, mandei selar um cavalo de raça, um garanhão pampa, lindíssimo. O animal não apenas marchava, simplesmente desfilava com aquela pompa peculiar de 07 de setembro. Meu irmão, não sei bem o porquê, pediu para selar uma pobre mula. E lá fomos nós, com eu imponente, sentindo-me, na pior das hipóteses, o próprio Duque de Caxias.

Chegamos à vila com o cavalo “mortaço”. A tal mula nem parecia ter feito esforço para vencer o labirinto do terreno com seu cascalho solto e traiçoeiro – pisava sempre firme e convicta.

A volta foi problemática: tive que parar várias vezes e ainda escutar as zoeiras do meu irmão – “Ei Marcelo, cadê o garanhão? ”. Nem com todas as esporadas, o bicho parava de refugar.

Candidato Pavão
Candidato Pavão

Eleição é como esta fazenda da minha infância. Tem de tudo e, pasmem, até mais bichos do que a arca de Noé, cada um querendo lhe convencer pelas aparências. Tem bicho que, de tão bufante, parece ter saído de uma cartola mágica. Sem falar que alguns, munidos apenas de saliva e arrotos, dizem saber bem mais que o capataz, os vaqueiros e os seus cuidadores.

O pleito para governar as fazendinhas do nosso pais será dia 02 de outubro, mas os cochichos da bicharada já estão zunindo nossos ouvidos, em guerrinhas nada idílicas. Na fazendinha Guarapari tem pré-candidatos pavões, pangarés, leopardos, corvos, águias e até cobras. Uma coisa quase todos têm em comum – você só ouve falar deles em épocas de eleições.

Vejo todos os dias reclamações que o curral não está limpo, o pomar nunca antes esteve com tão poucas frutas e diversidade… que a horta foi tomada pelas ervas daninhas…. etc… etc… etc… As queixas são tão cansativas quanto o desânimo, de sempre se verem emboscados pelas mesmas armadilhas – deixarem se influenciar pelas APARÊNCIAS. Foi com um discurso bonito que recentemente uma ANTA embrenhou a Fazenda Brasil numa mata escura.

Candidatos: Cobra, Galinha e Sr. Porco
Candidatos: Cobra, Galinha e Sr. Porco

Afinal toda fazenda tem um dono, certo? Quem é o dono da sua? Claro que a resposta é óbvia – É VOCÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ…. Isso mesmo, VOCÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ! ACORDA!!! Porém, a melhor oportunidade que temos para mandar é no dia das eleições… no resto do tempo, cabe-nos apenas a vigília. Agora, sendo franco – depois que o porco senta na cadeira, não espere dele coisas que não são da sua natureza. Porco gosta de lama, lavagem e todas as lambanças possíveis. Então, não vote no porco esperando que ele asfalte a sua rua. Tampouco na galinha, imaginando que ela vá construir a linda praça dos seus sonhos. Galinha gosta de ciscar. Dizem as más línguas da bicharada que a galinha sempre cisca atrás de propinas.

Em qualquer eleição só temos 02 alternativas:

A primeira, escolher candidatos que tenham propostas reais, sem a maquiagem do Marketing Político – nesse caso, o caminho será o trabalho, trabalho, trabalho e nenhum milagre;

A segunda, escolher candidatos com visões utópicas. Quem escolhe este atalho e quer ver onde vai dar, é só ler o maior romance satírico escrito até hoje, “A REVOLUÇÃO DOS BICHOS” (Animal Farm), do escritor inglês George Orwell – lá você verá como a UTOPIA pode criar um cadafalso entupido de corrupção, traições…e…. que, não por acaso, acabam criando porões e divãs para a ditadura. O que vivemos hoje no Brasil é o retrato fiel da REVOLUÇÃO DOS BICHOS – com a diferença de que no romance quem vendeu a “utopia” foram os porcos Bola-de-Neve e no mal-amado Brasil um Sapo Barbudo e seus companheiros de farsa… (rsrsrsrs… perdoem-me os sapos…. Não resisti à analogia).

Típica Briga Política: O LEÃO E A COBRA SE MATAM PELO (BEM) DO POVO...
Típica Briga Política: O LEÃO E A COBRA SE MATAM PELO (BEM) DO POVO…
Você vai me dizer: “Quem vê cara não vê coração”, certo? Concordo até certo ponto. Estudar cada candidato, pesquisando a sua vida e suas ações já ajuda bastante a errar menos. Nenhum bicho muda sua natureza – Um papagaio pode falar, mas sempre será um papagaio. Exemplo: O Bisão “Cunha”, por todos os cargos que passou Fazenda Brasil, só deixou destruição. Dó, nenhuma teve, pisoteou todas as cabeças que achou pela frente. Mas, como 2 + 2 são quatro, não duvido que, numa eleição, ele alcance números expressivos para qualquer cargo da Fazenda Brasília. Ele conhece o temor da bicharada.

 

Creia: conhecer a vida e as propostas de cada bicho é o melhor caminho. Votar pelas aparências ou movido pelo sentimento de torcida de futebol só vai fazer com que o pavão seja o melhor candidato – nada contra, mas a vida não é carnaval o tempo todo (rsrsr)!

Voltando ao início, caso não fosse na época um garoto metido a besta, teria me preocupado menos com a aparência dos bichos e suas performances para “inglês ver”, e claro, estudado mais. Desta forma, teria descoberto que a mula é o 4×4 das estradas e aguenta andar 30 km por dia, com 100 kg no lombo sem pedir arreio… e mais, é um dos poucos animais que suporta a pressão das altas altitudes, podendo ir até 5.000 m. O caminho para mudar e tornar a Fazenda Brasil o lugar que ela ocupa no hino nacional é de muito trabalho e longo, longuíssimo – POR ISSO EU SEMPRE VOU VOTAR NAS MULAS… ELAS SEMPRE CHEGAM AO FIM DO CAMINHO.

DESCUBRA SUA MULA. VOTE NA MULA! PRECISAMOS DE TRABALHADORES! CHEGA DE CAVALOS DE RAÇA “BON VIVANT”!

Você vai dizer que não tem muitas mulas por aí… TEM SIM. Na fazenda do meu pai havia muitas, porém, eu só enxerguei o cavalo de raça, o tal pampa que foi papado pelas suas promessas de me levar sem riscos e atropelos à vila próxima. No fim de todas as “picadas”, só me fez passar vexame.

Escolher o bicho que vai governar as Fazendinhas do Brasil pode ir muito além do vexame. Pode significar desempregos, violência, falta de educação, de saúde e o não aprimoramento de políticas públicas. No dia 02 de outubro, quatro dias antes do meu aniversário, este será o presente que vou me dar – VOU VOTAR NAS M-U-L-A-S, com todas as letras!!